segunda-feira, 26 de março de 2018

ONDE ESTÁ A CLASSE TRABALHADORA ?



Sobre liberdade e capitães do mato (por Maister F. da Silva)

Caravana de Lula durante visita IFRS em São Vicente do Sul. Foto: Guilherme Santos/Sul21
Maister F. da Silva (*)
 O Brasil realmente não é para amadores, um país complexo, sua gênese escravista, assassina e sanguinária evoluiu para um conservadorismo arcaico e sem nenhum compromisso com a nação, acostumado a ser sustentáculo e provedor de bem-estar de meia dúzia de barões e capitalistas comprometidos com a política econômica e cultural europeia e norte-americana. No entanto o Brasil conseguiu um feito do qual não devemos nos orgulhar, mas que gera um efeito devastador ainda hoje na construção da identidade de povo enquanto nação, o racismo velado.
O racismo brasileiro é um caso peculiar que tem vencido com a narrativa esdrúxula de democracia racial. O Brasil pós-escravista não enfrentou um racismo institucional como os casos dos EUA e África do Sul, para citar os mais conhecidos. Em outras palavras, não teve no estado capitalista/racista o inimigo claro, tal qual ele é, que elevaria o debate ao extremo e poderia eclodir uma revolta capaz de alterar a correlação de forças no interior do estado. Pelo contrário, venceu a narrativa de que ao fim do sistema escravocrata o negro iria galgar as mesmas posições que o branco, na mesma velocidade, apesar da discriminação racial e do preconceito de cor. Invisibilizou-se com a ajuda da mídia monopolista a verdade dos fatos, que a reprodução da desigualdade racial tem pé no projeto econômico e cultural do estado brasileiro, na submissão do negro como raça a exploração econômica, sujeitos aos piores empregos e acesso limitado ao ensino.
Essa fotografia de democracia racial endossada por alguns dos maiores intelectuais do país durante anos, criou um paralelo exposto agora, no momento em que o fascismo avança no país, um contingente significativo de negros bolsonaristas. Não há nada mais frutífero para o avanço do fascismo do que um povo desinformado e que não se identifica com a luta de seus antepassados. Tenho acompanhado a Caravana do Presidente Lula pelo Estado do Rio Grande do Sul, por mais insignificantes que sejam os atos fascistas dos promotores do ódio, acabei por vivenciar o que os olhos não querem ver, negros saudando a intervenção militar e usando camisetas de Jair Bolsonaro, tal qual os capitães do mato, pouquíssimo ou nenhum prestígio entre a comunidade negra e serviçal do patronato.
Para um negro não há nada mais triste. Ver que hoje no Brasil de seus 518 anos, ainda continuamos a nos dividir, ainda não temos o entendimento coletivo que para o capital seguir nos controlando é necessária essa lógica da exploração, o mito do “todos somos iguais”, inclusive perante a lei…ainda falta uma longa marcha até a liberdade, parafraseando Nelson Mandela.
(*) Militante do Movimento dos Pequenos Agricultores