segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

ANALISE DE LEONARDO BOFF SOBRE A RENUNCIA DE BENTO XVI.

Fonte blog do saraiva

Bento XVI reza missa em Aparecida (SP) durante sua única visita ao Brasil, em 13 de maio de 2007 Foto: AFP
Bento XVI reza missa em Aparecida (SP) durante sua única visita ao Brasil, em 13 de maio de 2007
Foto: AFP
Apesar de serem a mesma pessoa, Joseph Ratzinger e o Papa Bento XVI eram duas personalidades diferentes. A opinião é do teólogo e professor universitário Leonardo Boff, um dos poucos brasileiros que conviveram com o líder católico, que anunciou nesta segunda-feira o fim de seu pontificado. Ex-integrante da ordem franciscana e um dos expoentes da Teologia da Libertação no Brasil, Leonardo Boff falou à Agência Brasil sobre o papa Bento XVI "de função ambígua e polêmica" e de atitudes rígidas.

"Uma coisa é o Ratzinger professor e acadêmico, que era extremamente gentil e inteligente, além de amigo dos estudantes. Dava metade do salário aos estudantes latinos e da África. Outra coisa é o Bento XVI, que exerce função autoritária e centralizadora, sem misericórdia com homossexuais e adeptos da camisinha", disse Boff. 

O teólogo define Ratzinger da fase pré-papal como um pastor e professor extremamente erudito e de fácil acesso, conforme Boff: "Era pessoa simples que, ao se tornar cardeal, mudou de comportamento e passou a assumir posições duras. Tratava com luvas de pelica os bispos conservadores e com dureza teólogos da libertação que seguiam os pobres".

Segundo Boff, dois aspectos caracterizaram o Ratzinger da fase posterior. "Primeiro, o confronto com a modernidade, no encontro com as culturas e com outras religiões. Tinha a compreensão de que a Igreja Católica era o único porta-voz da verdade, e a única capaz de dar rumo a toda humanidade. Por isso, teve dificuldades com muçulmanos e judeus", afirmou.

Ouça trechos da carta de renúncia de Bento XVI
O segundo aspecto tem origem à época em que era cardeal. "Ele pedia aos bispos que impedissem que padres pedófilos fossem levados aos tribunais civis. Na medida em que a imprensa mostrou que havia não apenas padres, mas também bispos e cardeais suspeitos dessa prática, o Vaticano teve de aceitar a realidade. Ratzinger carrega essa marca de, quando cardeal, ter sido cúmplice desses crimes", declarou Boff.


Na avaliação do ex-franciscano, outro ponto fraco da atuação de Bento XVI como maior líder da Igreja Católica foi o de levar um papado tradicional, voltado para dentro da Europa. Na opinião de Boff, o papa construiu "uma igreja baluarte: fortaleza cercada de inimigos por todos os lados", e contra os quais tinha de se defender. "Acho que o projeto dele era uma reforma da igreja ao estilo do passado, voltada para dentro e tendo como objetivo político a reevangelização da Europa. Nós, fora de lá, consideramos esse projeto como ineficaz e como opção pelos ricos. Projeto equivocado", argumentou. "Não é um papa que deixará marcas na história", completou. 
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Boff disse não ter recebido com surpresa a notícia de que o Papa deixará o posto e que já sabia que ele vinha tendo problemas de saúde que o comprometiam física e psicologicamente para exercer o ofício. "Recebo com naturalidade essa notícia. Essa decisão segue sua natureza objetiva. Não é praxe um papa renunciar. Ele desmistificou a figura dos papas, que geralmente ficam no cargo até morrer. Provavelmente por entender o papado como um serviço. Essa atitude merece toda admiração e respeito. Esperamos, agora, que até a Páscoa, em meados de março, elejam um novo papa. De preferência um papa mais aberto. Até porque 52% dos católicos vivem no terceiro mundo e não mais na Europa", concluiu.

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